Em um futuro quase presente, os agentes de IA tomarão a linha de frente para encontrar respostas rápidas para você na web.
Durante duas décadas, aprendemos a buscar respostas no Google apenas digitando uma pergunta e recebendo uma lista de links cuidadosamente organizados por algoritmos. Era como abrir uma janela para o mundo, um convite à descoberta. Mas, na I/O 2025, o Google deixou claro que essa janela está se fechando — ou, ao menos, está mudando de forma. A Busca, como a conhecíamos, está sendo deixada para trás — e acho bom você se acostumar.
Na apresentação do evento, Sundar Pichai, CEO do Google, junto com sua equipe — anunciaram uma nova era, dominada por agentes de inteligência artificial. São eles agora que visitarão páginas, resumirão conteúdos, responderão perguntas e até farão compras — tudo em nosso lugar. Como afirmou Liz Reid, vice-presidente de Busca: “acreditamos que a IA será o mecanismo de descoberta mais poderoso que a web já viu“.
Essa frase diz muito. Ela não fala apenas sobre eficiência ou inovação, mas sobre transformação profunda. O maior anúncio do evento foi o lançamento do modo IA para todos os usuários de Search nos EUA, dando acesso a um agente que age como um navegador incansável, pronto para explorar, resumir e interagir com a web conforme os desejos do usuário.
E para quem assina o plano Ultra, o Projeto Mariner vai ainda mais longe. O agente pode realizar dez tarefas ao mesmo tempo, clicando em links, analisando páginas e trazendo os resultados, enquanto o usuário se dedica a outras atividades. É o auge da delegação digital!
O fim da internet começa na IA!
A conveniência da IA tem um preço. Afinal, o que restará da internet quando deixamos de visitá-la? O que acontecerá com os grandes portais de notícias, cinema e curiosidades quando ninguém mais precisar acessá-los em busca de uma resposta ou atualização? O Google está criando um ecossistema em que os próprios agentes se comunicarão entre si e com dados na web através de ferramentas de IA. Com isso, o usuário humano — cada vez mais, será apenas o espectador do processo.
Não é só o Google. A Microsoft também está de olho nesse futuro! Kevin Scott, diretor técnico da empresa, apresentou uma visão parecida para uma “web aberta e agêntica”, onde agentes agem em nome dos usuários. Eles querem nos livrar do fardo da navegação, mas ao fazer isso, talvez também estejam nos afastando da experiência de navegar pela web e, talvez, até mesmo levar a extinção o tão saudável hábito de ler […]
Mudança pode afetar grandes portais
Como bem observou Ben Thompson, do Stratechery, essa nova realidade pode corroer o modelo de negócios baseado em anúncios, que sustenta uma grande parte da web. Se agentes leem os conteúdos por nós, quem verá os anúncios? Quem clicará nos links? Quem levará tráfego para os sites?
Empresas que vendem serviços ou produtos — como sites de delivery de comida e de vendas de ingressos talvez não sofram impactos. Mas editoras, portais, criadores de conteúdo — estes, pois — dependem da atenção humana. Agentes de IA podem até nos devolver tempo, mas também podem esvaziar o valor da criação original.
Além disso, há algumas limitações da própria tecnologia. Demis Hassabis, CEO da DeepMind, foi objetivo ao falar disso no evento: “você pode facilmente, em poucos minutos, encontrar algumas falhas óbvias em chatbots de IA — algum problema de matemática do ensino médio que eles não resolvem, algum jogo básico que eles não conseguem jogar”, destacou.
Isso evidencia o paradoxo: queremos confiar nesses sistemas para resumir o mundo para nós, mas eles ainda tropeçam em tarefas simples. E se essas falhas se misturam com a aparência de certeza que a IA costuma ter, o risco de desinformação cresce. Um usuário distraído pode tomar uma resposta errada como verdade absoluta — e nem perceber.
Mesmo assim, o Google não parece disposto a esperar que o resto do mundo alcance esse novo paradigma. O gigante das buscas já está liderando a mudança, redesenhando não só a forma como buscamos informação, mas o próprio papel que ocupamos nesse processo.
A pergunta que fica é: queremos mesmo uma internet mediada por agentes? Uma web onde não clicamos, não exploramos, não nos perdemos em tangentes curiosas? Talvez ganhemos tempo, mas podemos perder algo no caminho […]
A forma como interagimos com o conhecimento, com os outros e com o mundo está mudando — silenciosamente, rapidamente, e talvez irreversivelmente. A web está virando uma plataforma para máquinas conversarem entre si, em nosso nome. O fim da internet como conhecíamos pode não ser um colapso repentino, mas uma transição gradual, em que um dia acordamos e percebemos que ela já não é mais nossa. Afinal, a internet que se vê é apenas 3%, o resto é dark, deep e agora — IA!